17 de abr. de 2011

Nas palavras de colegas, um conforto às famílias

Fonte: O Dia Online


Amigos de alunos mortos no massacre escrevem cartas para parentes das vítimas

POR CELSO OLIVEIRA
Rio - Dez dias após o massacre de Realengo, sobreviventes ainda trazem no olhar o pavor vivido nas duas salas de aula invadidas na Escola Municipal Tasso da Silveira. O comportamento em casa também não voltou ao normal, confirmam parentes. Mas, a pedido do jornal O DIA, eles juntaram forças para romper o silêncio e oferecer solidariedade em cartas escritas às famílias dos colegas que perderam a vida na tragédia.
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Liliane mostra espanto com o ataque do criminoso e tenta dar alento às famílias dos amigos  | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Dor e esperança dão o tom dos relatos. Os jovens também exprimem espanto com o ato sem sentido de Wellington Menezes, que matou 12 adolescentes a tiros. E aproveitam para escrever palavras de conforto, repetindo uma verdade que todo adulto já aprendeu: só o tempo pode ajudar a aliviar tamanha tristeza.
“Quero falar para os familiares das vítimas que, nesse momento tão difícil, Deus possa confortar o coração de vocês, embora essa dor pareça não ter fim”, escreveu Liliane Augusta dos Santos, 13 anos.

Amigas inseparáveis

A menina estudava na primeira sala invadida pelo Monstro, onde três estudantes foram ass</IP>assinados. A primeira jovem baleada e morta, Samira Pires Ribeiro, 13, era uma de suas amigas inseparáveis e sempre sentava a seu lado, mas naquele dia elas estavam separadas. Outra colega, Renata, que estava atrás de Liliane e foi baleada, também sobreviveu.

“Ele atirava e ficava rindo”, conta a jovem, que passou a dormir no quarto dos pais e não fica sozinha em casa. “Ela ainda está apavorada”, atesta o pai, o rodoviário José Antônio Augusto dos Santos, 54.

Aluno da outra turma, onde nove morreram, Douglas Lima Farias, 14, estava ao lado de Rafael Pereira da Silva, 14, executado com dois tiros. Ele tem explicação curiosa para ter sido poupado: “Acho que ele viu que sou gordinho e podia sofrer bullying, como ocorreu com ele no passado”.

Em sua carta, perplexidade e resignação: “Não sei o que aconteceu com a mente deste cara, mas não podemos fazer nada, só orar pelas crianças mortas na chacina”.

Lembranças que ainda machucam

Quando Wellington deu os primeiros tiros na outra sala, Iago Cathoud Dias, 13 anos, e mais quatro amigos voaram para baixo da mesa da professora, onde ficaram escondidos até um PM surgir na porta. Em seu recado, Iago pede paz: “A raiva não vai trazer seus filhos de volta”.

Willian Miguel Paiva Nascimento, 13, estava sentado ao lado de Igor Moraes da Silva, 13, morto na segunda sala. Mas ele não viu o colega baleado. “Tenho certeza que os amigos que sobreviveram vão voltar à escola”, escreveu.

Alunas do 3º andar da escola, onde o matador não conseguiu subir, Yanca Eccard, Bruna Araújo e Jéssica Rodrigues também afagaram as famílias com uma carta carinhosa: “Nós desejamos muita força a vocês”.

Voluntários pintam e dão abraço simbólico em escola

Cerca de 150 voluntários e ex-alunos se reuniram ontem para pintar de branco o muro e dar um abraço simbólico à Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, onde 12 crianças morreram baleadas por Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, no dia 7 deste mês. Amanhã, a escola será reaberta gradativamente. 

A iniciativa de pintar o colégio partiu do projeto Mãos que Ajudam, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que conseguiu recursos com a Prefeitura do Rio para comprar tinta, pincel e lanche para os voluntários. 

Um dos organizadores do abraço simbólico, o ex-aluno Eduardo Lurnel, 26, disse que o evento era somente de alegria e apoio aos alunos e às famílias das vítimas. “Não podemos esquecer a trajetória de sucesso da escola. Os ex-alunos daqui são pessoas e profissionais do bem, que conseguiram ser alguém na vida”, afirmou.

O motorista de ônibus Marcos Aurélio Neves da Silva, 38, também ex-aluno, ajudou na pintura do muro. Ele viveu momentos de tensão no dia da tragédia. “Quando recebi a ligação da minha mulher dizendo que era para largar tudo e vir para casa, fiquei desesperado. Mas graças a Deus meu filho não foi atingido”, lembrou o motorista. O filho de Silva, Marcos Vinícius, 10, aluno do 5º ano da escola, também ajudou na pintura.

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