Fonte: O Dia Online
Jardineiro foi acusado de pular roleta na estação Botafogo e não pagar passagem. Na Central, mulher é empurrada em trem lotado, cai na Central e acaba pisoteada
POR FRANCISCO EDSON ALVES
Gabriel Gonçalves foi agredido por seguranças do metrô na estação de Botafogo | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Por volta das 18h de terça-feira, após passar a roleta, o jardineiro Gabriel Gonçalves, 35 anos, foi puxado por um segurança do metrô. Aos gritos, foi acusado de calote e orientado a voltar à bilheteria para pagar. Gabriel se recusou, alegando que um amigo havia passado o RioCard para ele.
A confusão se instalou quando os seguranças partiram para a agressão. Um homem que tentou defender Gabriel também foi agredido. As cenas, filmadas por um repórter da TV Globo, causaram tumulto e revoltaram quem estava no local. Às 18h24 de ontem, 24h depois do episódio, o Metrô Rio pediu desculpas à população e afastou os seguranças acusados da agressão.
PISOTEADA NA CENTRAL
Por volta das 7h15 de ontem, a auxiliar administrativa Renata Lemos dos Anjos, 34 anos, embarcou na estação da Cidade Nova (Centro) com destino a Botafogo, onde trabalha. Ela contou que o vagão estava superlotado e foi obrigada a viajar encostada na porta, imprensada pelos usuários.
“Na Central, assim que a porta se abriu, boa parte dos passageiros saiu rápido e acabei caindo no vão. Foi uma avalanche de gente me pisando. Entrei em desespero porque fiquei com medo de o trem partir”, contou Renata, que teve escoriações, torção no joelho e luxação nos nervos da coxa direita.
Segundo ela, um desconhecido a puxou do vão e pediu ajuda aos seguranças. “Sou hipertensa e, para meu espanto, não havia ninguém para prestar socorro na sala de repouso. Só providenciaram gelo para a perna. Fui levada num carro da empresa para hospital na Tijuca”, afirmou.
Concessionária se desculpa pelo sistema de comunicação
Em nota, ontem à noite, o Metrô Rio informou que afastou os agentes de segurança envolvidos na confusão em Botafogo até o fim da apuração do caso, tratado pela empresa como “fato isolado”. A concessionária pediu desculpas aos passageiros, por meio de seu sistema de comunicação nas estações.
Também através de nota, o Metrô Rio garantiu que os seguranças da estação Central prestaram toda a assistência à passageira Renata Lemos dos Anjos. O texto diz que ela “foi levada prontamente” em carro da empresa ao hospital.
A concessionária ressaltou que os seguranças são treinados para oferecer os primeiros socorros e que a empresa está à disposição para prestar o apoio necessário à Renata.
Eletricista se oferece para pagar passagem e acaba agredido também
No vídeo da TV Globo, Gabriel aparece desesperado, tentando dar explicações de que não havia pulado a roleta a um dos seguranças que o puxou pelo braço. Mais dois agentes chegaram em apoio. Outros usuários protestaram contra a atitude dos agentes. Um deles, o eletricista P., 48, que nem conhecia Gabriel, levou uma gravata ao se oferecer para pagar a passagem. Os seguranças também tentaram evitar a gravação.
Para evitar a revolta dos passageiros, Gabriel foi levado, com o eletricista, à sala da supervisão da segurança. Na entrada, Gabriel é agredido com cassetete no tórax por um dos seguranças e cai. “Fomos mantidos em cárcere privado por cerca de meia hora, até a chegada de PMs, que nos levaram para a delegacia”, ressaltou Gabriel. Segundo o Metrô Rio, a câmera do setor onde o episódio ocorreu não estava funcionando.
Cinco horas até fazer queixa
Sentindo dores, Renata passou por peregrinação para conseguir registrar queixa. Ela perdeu cinco horas e R$ 80 de táxi para que o boletim de ocorrência fosse feito. A via-crúcis começou às 10h, na 10ª DP (Botafogo), onde foi orientada a se dirigir à 4ª DP (Central), área onde ocorreu o acidente. Lá, os plantonistas afirmaram que o sistema de informática estava fora do ar e a encaminharam à 6ª DP (Cidade Nova), que estava lotada.
Os agentes da 4ª DP, então, pediram à 10ª DP que fizessem o registro, o que ocorreu somente às 15h. “Me senti humilhada”, disse. O diretor de Polícia da Capital, Ricardo Dominguez, disse que irá apurar o caso, afirmando que registros podem ser feitos em qualquer delegacia.
Pai de 5 filhos, jardineiro diz ser batalhador
Na 13ª DP, os seguranças Humberto Silva, 29, Antônio Carlos Rosa, 29, e Jucimar Calixto Filho, 31, sustentaram que Gabriel teria pulado a roleta. Os agentes negaram que tenham agido com truculência, apesar de as imagens mostrarem o contrário. Um deles chega a admitir no vídeo que bateu (com um cassetete em Gabriel): ‘Bati e, se vier para cima de mim, bato de novo’.
Pai de cinco filhos, Gabriel se emociona ao lembrar do incidente. “Sou honesto e luto com sacrifício para criar minha família com R$ 650 por mês. Passo aperto, mas nunca pularia a roleta. O que fizeram foi covardia”, lamentou o jardineiro, que vai processar o Metrô Rio.
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