Fonte: O Dia Online
Prefeitura entrega documentação incompleta e atrasa liberação de verba federal
POR CHRISTINA NASCIMENTO
Rio - Cenário de caos toda vez que chove no Rio, a Praça da Bandeira voltou a ficar submersa nesse último temporal. Ônibus e carros foram arrastados e pessoas se penduraram no teto dos veículos para não ser levadas pela correnteza. Uma ‘rotina’ que poderia ser diferente: o governo federal destinou R$ 292 milhões para obras de prevenção de enchentes no local, mas a verba ainda não foi repassada porque a documentação entregue pela prefeitura está incompleta.
Arte / O Dia
O prefeito Eduardo Paes, no entanto, garantiu que as obras começam ainda este ano e vão durar 18 meses. Segundo ele, o município está dentro do prazo previsto para cumprir as exigências feitas. O secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, ressaltou que problemas na documentação são normais quando o repasse é de valores muito altos. “Em cinco dias, acho que vamos resolver as pendências”, disse.
A assessoria da Caixa Econômica esclareceu que faltam informações que comprovem o cálculo do valor previsto e a descrição do projeto com especificações técnicas. Sem isso, a quantia de R$ 151,05 milhões — referentes a uma etapa das obras — provenientes do FGTS não é liberada. A expectativa é de que esse dinheiro seja usado na construção de quatro piscinões e em obras de trechos específicos da calha do Rio Trapicheiros.
Apesar da pendência, a Caixa disse que enviou ontem para o Ministério das Cidades a proposta já validada, para homologação, e também à Secretaria do Tesouro Nacional, para verificar a capacidade de endividamento da prefeitura.
Outra fatia da verba para intervenções contra enchentes — vinda do Orçamento Geral da União, no valor de R$ 164,395 milhões — também encontra entraves. A Caixa constatou que, no projeto básico, não já informações suficientes para avaliar o conjunto das obras e dados que permitam a confirmar os valores indicados no orçamento. O prazo dado pelo Ministério das Cidades para contratar a operação é de 29 de julho.
Na Rua Paulo Fernandes, na Praça da Bandeira, um prédio, casas e lojas foram invadidos por água e lama. “A rua parecia um rio. Perdi tudo pela segunda vez. Há um ano, aquele temporal já tinha estragado minhas coisas. Vou ter que recomeçar do zero”, queixou-se a dona de casa Maria Cristina de Oliveira, de 58 anos.
Na mesma rua, a Irmandade Espiritualista Verdade Eterna (Ieve), sediada num prédio de cinco andares, teve a porta destruída pela correnteza que alagou a via, de madrugada, e todo o primeiro pavimento foi inundado. O carro do presidente da instituição, estacionado em frente, foi arrastado por 30 metros e parou enganchado em viga de ferro na calçada. “Estou chocado. Estamos há dez anos nesse endereço e não é a primeira vez que enfrentamos cheia. Passamos a noite aqui”, lamentou Hélcio Ferreira Leal, 72 anos.
Água e lama nas lojas do Centro
No Centro, a Rua do Senado foi uma das mais afetadas. Às 10h de ontem, um trecho de 500 metros, entre as ruas Gomes Freire e Ubaldino de Amaral, ainda estava alagado. O trânsito no entorno ficou caótico. Pedestres tinham dificuldade de passar nas calçadas, que estavam tomadas pela água, enquanto comerciantes limpavam lojas.
“Tive que tirar muita água antes de abrir o bar”, contou o comerciante Tarcísio Rodrigues Souza, 55, que não recebeu fregueses de manhã porque a entrada ficou inundada. Na noite de segunda-feira, quando fechava o bar e já chovia forte, ele desligou o freezer com medo de queda de luz. “Foi a sorte. O motor ficou debaixo d’água, mas não queimou”.
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