9 de abr. de 2011

No dia seguinte, escola tem vigília pelas vítimas

Fonte: O Dia Online


Rua General Benevides Matos, em Realengo, recebeu visitas durante toda a sexta-feira e homenagens aos alunos mortos

Rio - Uma rede de solidariedade se formou ontem em Realengo, um dia após o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira. Na Rua General Benevides Matos, onde fica a unidade, desde o início da madrugada, moradores de diversas partes da cidade se uniram em orações diante do muro escolar, que ficou tomado de flores. Os nomes dos 12 alunos brutalmente assassinados foram colocados em 12 cruzes brancas, afixadas na calçada por integrantes do Movimento Rio de Paz. A área permaneceu isolada pela PM e a escola, fechada.


Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Drama comove a quem passa pela escola em Realengo | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Na vigília pelas vítimas, amigos e parentes relembraram os momentos de terror. “Foi o pior dia da minha vida. Receber ligação do filho dizendo que a escola está sendo atacada a tiros é uma experiência que nenhuma mãe deve passar”, contou, emocionada, Viviane Barcelos, 34, mãe de Felipe Barcelos, 11, sobrevivente.

A Secretaria Municipal de Saúde ofereceu equipe médica para emergências. Lista com os nomes do alunos mortos, locais e horários dos enterros foi afixada no portão.


Com duas caixas de vela nas mãos, o desempregado Alexandre de Souza, 42, ficou 30 minutos ajoelhado diante dos nomes das vítimas. “Vim de Bonsucesso para acreditar no que aconteceu. Muito triste! Só Deus para consolar o coração dessas famílias”, lamentou.

No final da manhã, motoboys fizeram uma ‘motosseata’ em homenagem às vítimas. A ex-aluna da escola Aidê Miranda, 48, hoje pedagoga, fez oração diante do muro branco da escola. “Fiz parte de uma das primeiras turmas dessa escola, em 1973. Tenho um carinho muito grande por esse local e estou partida por dentro pela crueldade cometida contra essas crianças”, chorou.

O presidente do Rio de Paz, Antonio Carlos Costa, apelou para que a sociedade apoie a CPI das Armas, da Assembleia Legislativa do Rio. “O que nós precisamos saber é como, no nosso estado, entram armas e munição. Temos que fazer esforços para impedir que homens assim como esse homicida tenham meios de cometer crimes, já que 68% das armas que estão nas mãos de criminosos foram vendidas legalmente”, disse Antonio Carlos.

Ponto de vista - Leslie Leitão

“A consciência me empurrava para Realengo”

A loucura de uma trágica cobertura jornalística faz com que nós, jornalistas, esqueçamos o mundo. Família, amigos, tudo. Controlamos a emoção e tentamos congelar o coração para nos mantermos focados num trabalho inglório, mas histórico em nossas vidas e carreiras profissionais.

Quando cheguei em casa, depois de 15 horas de trabalho, no dia da chacina, minha filha de 3 anos já estava dormindo. Até tentou me esperar, escondida debaixo da mesa para dar susto no papai. Mas foi convencida pela mãe de que eu iria demorar. Ontem, acordei-a com beijinhos e uma mamadeira quentinha. Ficamos agarrados por 20 minutos vendo ‘Dora Aventureira’. Mas o dever me chamava de novo.

Minha consciência me empurrava para Realengo, onde sabia que teria um dia dramático de enterros em série. De meninas, em sua maioria, como a minha Mel. Ver aquele cenário de uma dor avassaladora de pais e amigos foi cruel demais. Ficar pensando na melhor maneira de abordar uma mãe para ouvir e registrar seu pranto também doeu. Não somos geladeiras ambulantes com papel e caneta nas mãos. ‘Calma, Leslie’, pensei. Se segura porque repórter não pode chorar’. Não deu. Fracassei. Eu não sou só repórter. Eu também sou pai.

Reportagem de Marcello Victor e Thiago Feres

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