18 de fev. de 2011

Mais de 1.500 microempresas são legalizadas em doze comunidades com UPPs

Fonte: R7

Avenida Independência, perto do Borel, vive boom de novos estabelecimentos comerciais


DivulgaçãoO governador Sérgio Cabral inaugura agência de um banco privado na Cidade de Deus.



A política de segurança implantada recentemente no Rio de Janeiro está trazendo bons frutos às comunidades com UPPs (Unidades de Policia Pacificadora), pelo menos quando se trata de melhorar a atividade econômica dessas regiões. Apesar de a primeira unidade ter sido inaugurada em dezembro de 2008, no morro Santa Marta, o boom nos negócios se intensificou apenas nos últimos 12 meses.


Nesse período, os estabelecimentos legalizados cresceram consideravelmente, contabilizando mais de 1.500 empresas em doze comunidades. Atualmente, o número de UPPs instaladas são 14, mas já há previsão de instalação de mais três após a tomada do Complexo do São Carlos.


Essa legalização maciça foi alcançada com ajuda do programa Empresa Bacana, elaborado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa), em parceria com a prefeitura do Rio e o Sindicato dos Contabilistas.


No geral, os serviços que estão garantindo lucros e aumento nas cifras das empresas estão ligados, principalmente ao setor de telefonia, de energia elétrica, das empresas de varejo e consumo e claro, nos serviços de TV por assinatura.


Na avaliação do secretario municipal de Desenvolvimento, Felipe Góes, esse aumento é um reflexo da política de segurança do município que está ajudando a população a investir em negócios próprios sem o medo constante de que, em algum momento, indivíduos possam atrapalhar os seus negócios.


- Essas empresas estão se beneficiando das políticas de segurança do Rio de Janeiro. A cidade está passando por um interessante processo de legalização dos seus negócios. Logo veremos os resultados nos índices de emprego dos bairros pacificados.


Se as autoridades e os comerciantes locais estão pulando de alegria depois da sensação de segurança proporcionada com a chegada da polícia e do poder público a áreas de pacificação, grandes empresas dos mais diversos segmentos também estão de olho nesse mercado.


Com a violência longe, multinacionais e instituições financeiras estão voltando para as áreas onde um dia o medo afastou indústrias e trouxe desemprego. A Philips, por exemplo, quer montar uma fábrica na região do morro do Dendê, na Ilha do Governador, na zona norte.


Para saber se a estratégia da empresa poderia ser mais agressiva, com investimentos maiores, a multinacional buscou informações sobre a instalação de uma UPP na área em reunião com o governador Sérgio Cabral (PMDB). O governo confirmou a reunião (mas não revelou o assunto) e a informação de que haverá pacificação até 2014, ano em que ocorrerá a Copa do Mundo no país.


A Procter & Gamble (empresa que produz de alimentos a produtos de higiene) também seguiu a mesma linha. A empresa está buscando áreas para poder instalar uma nova fábrica no Rio de Janeiro. Aproveitando os amplos terrenos na zona norte e a melhoria da segurança na região, pessoas ligadas à empresa estão buscando áreas perto de comunidades pacificadas, aproveitando também mão de obra da própria região. Procuradas para falar sobre o assunto, as duas empresas não se manifestaram até a publicação dessa reportagem.


Além do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, instituições ligadas à União, que vão abrir agências no Complexo do Alemão, bancos privados também se preparam para fornecer serviços em comunidades. Essa iniciativa é considerada tão importante que o Bradesco inaugurou uma agência na Cidade de Deus, com a presença do governador, Sérgio Cabral e o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco.


- O banco tem que chegar à comunidade e fornecer serviços e não uma comunidade de 70 mil pessoas ir ao banco. Chegamos a essa comunidade em uma fase de resgate da paz, da ordem e da tranquilidade, tão necessárias para o exercício pleno e diário da cidadania. Nosso objetivo é contribuir para esta nova fase.


O Bradesco já está na Rocinha e em Cantagalo, ambas na zona sul, mas o plano de expansão do banco nas comunidades do Rio de Janeiro é audacioso. A previsão é que se inaugure mais nove agências ainda este ano no Salgueiro, Dona Marta, Turano, Complexo do Alemão, Terreirão, Tijuquinha, Gardênia Azul, e Vila Cruzeiro. A próxima está prevista para o final de fevereiro na comunidade de Rio das Pedras, zona oeste.


Complexo do Alemão 
A tomada do Complexo do Alemão e dos bairros do entorno, por exemplo, trouxe para a economia do Rio de Janeiro um mercado consumidor de 600 mil pessoas, ou seja, da noite para o dia, nasceu uma população ávida por consumir maior que a população da cidade de Goiânia. 


Com o fim dos "gatonets" (ligações clandestinas de TV a cabo), as empresas de TV por assinatura dominaram, na semana seguinte, as principais vias da comunidade. Para alavancar as vendas, a Sky lançou um pacote especial, que dá inveja aos moradores de áreas nobres do Rio. Por R$ 44,90, as comunidades pacificadas poderão assistir a até 89 canais.


Essa invasão também foi observada há menos de uma semana quando o Bope (Batalhão de Operações Especiais) subiu a comunidade São Carlos. Inicialmente proibidos de entrar, os 140 funcionários da Sky em pouco tempo formaram um paredão vermelho de vendedores, que fecharam o equivalente a mil assinaturas, número que alcançariam (em situações normais) em somente três meses.


Já a Oi, líder em seu segmento no Rio de Janeiro, segundo George Moraes, vice-presidente da Oi Futuro, detinha quase 37 mil pontos de telefonia fixa no Complexo do Alemão, vê as áreas pacificadas como uma oportunidade de crescimento, inclusive no segmento de banda larga e os de TV por assinatura.


- A estratégia hoje é retomar [os clientes que perderam]. A ambição é chegar em um ano [dezembro de 2011] até 50 mil. As pessoas têm mais dinheiro, a renda melhorou. Por exemplo, o comerciante que tem um pequeno e médio comércio, muitas vezes em mais de um ponto da comunidade.


George aponta ainda que, diferente do que o senso comum diz, ao entrar no Alemão os profissionais da empresa perceberam que aquela população estava longe de ser, necessariamente, parte dos extratos mais baixos da pirâmide social. De acordo com ele, muitos têm padrões de consumo próximos ao da classe média carioca.


- Quando a gente mergulhou na comunidade a gente não viu isso, o dado mais surpreendente nessa história é que ali tem um mercado consumidor pulsante, é diferente do que o imaginário coletivo indicava. Eles têm hábitos de consumo típicos da classe média. Já compraram computador aspirador, fogão, televisão, geladeira, micro-ondas, todos os itens que definem o critério Brasil para classificações de renda. As famílias têm padrão de consumo tipicamente classe C, por isso é uma oportunidade de negócio. Para o consumidor dessas áreas é também um ganho de cidadania.


Apesar do visível sucesso da empresa na região, ainda há áreas em que os profissionais não conseguem entrar para fazer manutenção e reparos, como a Mangueirinha, Rola, parte do morro do Juramento e Antares.
Não são apenas as empresas brasileiras que enxergam potencial nas comunidades pacificadas. A companhia petroleira norte-americana Chevron, em parceria com a ONG Elas – Fundo de Investimentos Sociais, vai investir cerca de R$ 425 mil em projetos de incentivo ao empreendedorismo.


Em março será inaugurada uma pequena fábrica de sabões e sabonetes artesanais na Cidade de Deus, na zona oeste. O projeto utiliza como matéria-prima óleo reciclado da própria comunidade. Já em maio, será inaugurado o serviço de aluguel de materiais para festas infantis no Borel.


Comércio invade ruas da Tijuca
A chegada da UPP em favelas antes controladas por traficantes ou milicianos melhorou a relação dos cidadãos com o bairro, com a comunidade, com o comércio e com a polícia.



Um bom exemplo é a invasão de novos comércios na avenida Independência, principal via de acesso ao morro do Borel, na Tijuca, na zona norte. Em qualquer bairro, as artérias principais são utilizadas pelo comércio para aproveitar o grande fluxo de pessoas. Os comerciantes estão retomando grandes negócios e abrindo novos estabelecimentos. Assim, a vocação nata retorna à avenida Independência.


Segundo estudo encomendado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, as UPPs são amplamente aprovadas em favelas, chegando ao índice de 92%. Já nas favelas sem pacificação, o índice gira em 77%. A visão da Polícia Militar também melhorou. Nas áreas com UPPs, a confiança da PM é mais que o dobro da registrada em comunidades não pacificadas, alcançando 60% contra 28%.


Além das boas perspectivas observadas na Tijuca, se juntar as previsões para a Cidade de Deus e a Providência, há mais de mil comerciantes locais interessados em legalizar a situação jurídica de seus estabelecimentos. O saldo total para os comerciantes do Rio, por enquanto, promete ser positivo. A arrecadação da prefeitura também agradece.

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