Há falta de médicos na unidade e delegado quer exumar o corpo da jovem
POR FELIPE FREIRE
Rio - No dia em que o pequeno Leonardo completou 1 mês, as comemorações ficaram em segundo plano. A morte de Paula Belarmino Costa, 23 anos, dia 3 de julho, dois dias após o nascimento do filho na Maternidade Municipal Alexander Fleming, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio, foi parar na 30ª DP, no mesmo bairro. Familiares denunciam erro médico devido à precariedade no atendimento. A unidade já fechou por falta de profissionais. Nesta segunda-feira, foi a vez de o Hospital Municipal Rocha Maia, em Botafogo, interromper o atendimento noturno pelo mesmo motivo.
O delegado titular da 30ª DP, Hércules Pires, pediu a exumação do corpo de Paula. Funcionários do hospital serão chamados para depor.
Indignação e saudade: mãe da vítima, Silvana Belarmino segura neto no colo e mostra foto da filha, Paula | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Segundo a mãe da vítima, Silvana Belarmino, 46, no dia da morte de Paula não havia obstetra. Quem atendeu sua filha foi um pediatra. A família sofreu ainda com a escassez de ambulâncias. O veículo do Samu levou 3 horas para chegar. Paula sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu 15 minutos depois da chegada do socorro móvel.
“Eles pediram que arrumássemos uma ambulância e vaga em outro hospital. Conseguimos a transferência para o Lourenço Jorge, na Barra, e uma ambulância. Sei que minha filha não vai voltar, mas não quero que outras grávidas passem por isso”, desabafou Silvana.
Ela conta que Paula fez 4 exames pré-natal na Alexander Fleming, todos com enfermeiros. Dia 10 de julho, ao sentir-se mal, foi diagnosticada pré-eclâmpsia grave (elevação da pressão após a 20ª semana de gravidez) e a jovem foi internada por 8 dias. “A médica determinou que a cesariana fosse feita caso a pressão estivesse alta. Mas dia 17, ela estava com 16 por 11 e um enfermeiro, já na sala de cirurgia, suspendeu o parto”.
Dia 29 voltou com falta de ar e cansaço, mas foi mandada para casa. A internação só aconteceu no dia seguinte e o parto, dia 1º. Inchada, com muita tosse e falta de ar, seu quadro se agravou.
Rocha Maia: porta aberta, mas sem médico à noite
Fechado na madrugada de domingo por falta de pessoal, o hospital Rocha Maia, em Botafogo, reabriu as portas nesta segunda-feira, mas sem médico à noite.
“Cheguei com dor de cabeça e febre, mas me disseram que só tem médico pela manhã. Vou para casa, em Inhaúma, e tomo um remédio”, resignou-se Claide dos Santos, 30 anos, funcionária de um estacionamento ao lado do hospital.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde admitiu que o plantão da manhã de domingo foi prejudicado por falta de clínicos e que “foram priorizadas situações de maior urgência”. Em relação à maternidade, afirmou que “a paciente recebeu toda a assistência e suporte necessários ao seu quadro” e que colabora com as investigações.
O órgão afirmou que a Prefeitura do Rio autorizou a realização de concurso público para 2.500 profissionais, sendo 1.700 médicos de várias especialidades.
Denúncia ao MP
O presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores do Rio, vereador Carlos Eduardo (PSB), denunciará ao Ministério Público e à OAB-RJ a morte de Paula.
Segundo dados da comissão, na unidade, até 30 nascimentos por mês envolvem mães em estado de risco. “Contudo, a maternidade não possui CTI materno e ambulância. Isso é a crônica de uma morte anunciada”.
Para a Organização Mundial de Saúde, a cada 100 mil bebês nascidos vivos, são toleradas 20 mortes maternas. No Rio, segundo ele, o número ultrapassa 70.
Um comentário:
Paula era minha amiga, sinto muito por sua morte e sinto muita raiva por esses incompetentes que não souberam atendê-la.
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