Procedimento retira parte do crânio e o conserva no abdômen
POR ISABEL BOECHAT
Rio - A família da menina de 9 anos que deu um tiro acidental na própria cabeça está esperançosa. Apesar de Ana Carolina Fernandes Pontes estar em estado gravíssimo, ela foi submetida a uma cirurgia com técnica avançada que diminui as chances de morte de 95% para 15% em casos como o dela, segundo o chefe do setor de neurologia do Hospital Miguel Couto, o médico Ruy Monteiro.
Médico Ruy Monteiro: ‘Em outro lugar, essa criança já teria morrido’ | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
O procedimento, que retira parte do crânio e o mantém no abdômen da paciente até que possa ser recolocado na cabeça, durou mais de sete horas na terça-feira. A bala foi retirada da cabeça. “Ela tem chance”, disse um tio. A criança manuseava em casa a pistola do pai quando se feriu.
É a segunda vez que este tipo de cirurgia é feito em uma unidade pública com vítimas de arma de fogo. “Retiramos a parte do crânio, onde ocorreu o trauma. Isso faz com que o edema não comprima o tronco cerebral que fica no meio do cérebro. Dessa forma, o edema se expande para fora, aumentando as chances de vida. Em qualquer outro lugar do mundo, essa criança já teria morrido”, explicou o neurocirurgião.
De acordo com o médico, as próximas 48 horas são fundamentais para um descanso do cérebro. Após o período, a sedação usada para indução do coma começará a ser reduzida. Somente depois, os médicos poderão avaliar se a menina apresentará sequelas que vão desde paralisação do lado direito a um estado vegetativo.
Na tarde desta quarta-feira, o pai de Ana Carolina, Raimundo Nonato Mendes Pontes, 36, esteve na 43ª DP (Guaratiba) e admitiu que não deveria ter a arma. “Ele está muito abalado. É um bom pai e está se sentindo culpado. A família está unida em oração para que Ana Carolina fique bem e volte para casa. Ela tem chances”, contou um tio da menina, que preferiu não se identificar.
Pistola sob urso de pelúcia
O titular da 43ª DP, Antônio Ricardo Nunes, responsável pelas investigações, acredita que a criança tenha confundido a pistola com um brinquedo. A arma estava sob um urso de pelúcia em cima do armário do quarto de Ana Carolina. Havia uma beliche perto do armário.
“A menina pegou a arma, caminhou com ela até a sala. A pistola disparou enquanto a criança manuseava”, disse o delegado. O pai foi indiciado por porte ilegal de arma de fogo e omissão de cautela. A mãe da criança passou o dia de ontem no hospital acompanhando a filha.
Técnica salvou estudante
A técnica cirúrgica usada em Ana Carolina salvou a vida do estudante da PUC Rodrigo Kopke da Silva Almeida, 24 anos, em 2009. Em um assalto, ele levou um tiro na cabeça e tinha 90% de chances de não resistir. Após a cirurgia, ele ficou com pequenas limitações de movimento na mão direita, mas vive normalmente.
“A recuperação do Rodrigo foi surpreendente. A indicação clássica seria a limpeza do orifício de entrada do projétil e a sua retirada. Mas a equipe optou por fazer também a descompressão do hemisfério direito do cérebro, que foi atravessado pela bala. Sabíamos que o cérebro teria grande edema”, contou, na ocasião, Ruy Monteiro.
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