Assassina de Lavínia será indiciada por homicídio triplamente qualificado. Menina foi sufocada com toalha, travesseiro e cadarço
Rio - Assassina confessa de Lavínia Azeredo, de 6 anos, Luciene Reis, 24, será indiciada por homicídio triplamente qualificado (crime premeditado, cometido por meio cruel e sem direito de defesa à vítima), com pena máxima de 30 anos de prisão. Segundo o delegado adjunto da 60ª DP (Campos Elíseos), Luciano Zahar, Luciene saiu de casa com intenção de matar a menina, enterrada ontem no Cemitério do Corte Oito, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
Pai de Lavínia (de branco) precisou ser amparado no enterro | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Luciene confessou, em seu depoimento à polícia, que primeiro envolveu o rosto de Lavínia com uma toalha para que a vítima não gritasse e depois a sufocou por oito minutos com o travesseiro. “Como ela percebeu que a menina ainda se mexia, resolveu então estrangulá-la com ajuda do cadarço do tênis de Lavínia”, revelou o delegado.
De acordo com a polícia, a bermuda e a blusa que Lavínia vestia quando embarcou num ônibus com a assassina pertencia a uma das filhas de Luciene. A polícia acredita que ela levou a vítima até sua casa, fazendo um percurso a pé, de cerca de 40 minutos, para trocar a roupa usada pela menina a caminho da morte. “Ela planejou o crime”, afirmou o delegado. As mudas de roupa que vítima e assassina estavam na segunda-feira foram encaminhadas, ontem à tarde, com o cadarço do crime, para a perícia.
Para a polícia, no entanto, ainda é preciso responder inúmeras perguntas para esclarecer o caso. “Como a criança saiu de casa sem ninguém notar, quem abriu a porta e por que ela vestia a roupa de uma das filhas da assassina são questões que ainda têm que ser apuradas”, explicou Zahar.
Até ontem à tarde, Luciene responderia por sequestro seguido de morte, mas a polícia concluiu que o assassinato foi brutal e premeditado.
Segundo agentes, Lavínia conhecia Luciene, mas as duas não eram próximas o suficiente para a menina sair sozinha com ela. As investigações apontam que a assassina recebeu ajuda de alguém de confiança da vítima para agir. Luciene, os pais de Lavínia e parentes que moram no mesmo terreno da família serão ouvidos na próxima semana.
Mãe de Luciene, Neide Reis fez um desabafo logo depois de a filha ser levada para a Polinter de Magé, na noite de quarta-feira. “Desde criança, ela aprontava. Cheguei a levá-la ao Conselho Tutelar. Acho que ela tinha algum problema, mas ninguém acreditou em mim. Os filhos dela agora ficarão comigo e com Deus”.
Desespero, protestos e comoção durante enterro
Lavínia Azeredo foi enterrada no Cemitério do Corte 8, sob aplausos, orações e cânticos. Em clima de consternação e revolta, cerca de 300 pessoas pediram por justiça — alguns clamaram até pela pena de morte (sentença judicial que não existe no Brasil) para a assassina. Policiais do 15º BPM (Caxias) tiveram que isolar o acesso ao velório na capela 2, onde só parentes e poucos amigos da família entraram.
Apontado pela maioria das pessoas no funeral como pivô da tragédia, o pai de Lavínia, Rony dos Santos Oliveira, desmaiou duas vezes — na chegada do corpo à capela e durante o sepultamento, quando, aos prantos, pediu perdão à filha. “Você sempre foi a minha eterna princesinha. Me perdoa, me perdoa”, desabafou, à beira do túmulo, amparado pela mulher, Andrea Azevedo.
Professores, alunos e funcionários do Centro Educativo Sandra Oliveira (Ceso), onde Lavínia estudava no 2º ano, levaram faixa com a mensagem ‘Lavínia nossa eterna princesinha’. “Ainda não estamos acreditando que ela morreu. Está sendo um momento muito cruel para todos nós. Era uma ótima criança, inteligente, muito elogiada por professores e que viveu intensamente a sua infância”, resumiu, emocionada, a diretora Sandra Maria de Oliveira.
Familiar não desconfiava do pai da menina
Prima do pai de Lavínia, a advogada Adriana Santana da Silva afirmou que ninguém sabia do relacionamento entre Rony e Luciene. “Foi uma surpresa. O Rony sempre foi uma pessoa politicamente correta, ninguém desconfiava”.
Para ela, o crime foi cometido por vingança. “Acho que tudo só vai ser revelado com a quebra do sigilo telefônico. O dinheiro que estava pedindo era para proporcionar a fuga”, acredita.
A advogada disse ainda que Luciene sempre foi uma pessoa muito perigosa. “Ela é uma pessoa ardilosa. O tempo todo queria incriminar o marido, tanto que o chamou para ir ao hotel com ela e jogar a culpa nele”, afirmou.
Adriana elogiou o comportamento de Andréa, mãe de Lavínia: “Ela tem sido muito forte. Chora, claro, mas consegue força para consolar a família. É surpreendente”.
Professoras consternadas
O Centro Educacional Sandra Oliveira, onde a menina Lavínia estudava desde os 3 anos, fechou ontem. Pequeno cartaz no portão da escola, no Parque Nova Esperança, avisava do sepultamento da menina.
Muito emocionadas, as professoras de Lavínia disseram que ela era muito tranquila. “Vai ser difícil na hora da chamada, pois automaticamente vamos passar pelo nome dela na lista”, disse a professora de Matemática, Ciências e História, Edna Bahia.
A escola só voltará a abrir depois do Carnaval, segundo a direção.
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