25 de abr. de 2011

Em Realengo, tempo de renascimento

Fonte: O Dia Online


No Domingo de Páscoa, moradores do bairro homenageiam as 12 crianças mortas no massacre em escola municipal

POR FRANCISCO EDSON ALVES
Rio - Amigos e parentes das 12 crianças mortas pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, transformaram o Domingo de Páscoa em um dia de homenagens às vítimas. Na Praça do Bom Conselho, um festival de pipas reuniu pelo menos 300 meninos e meninas do bairro. Entre as criativas formas em papéis de seda, os anjinhos de Realengo foram lembrados de diversas maneiras, como em uma pipa com os nomes de cada um dos estudantes mortos.

“Iniciativas assim levantam o astral dos jovens. Apesar da tristeza, não podemos nos entregar, pois a vida continua”, afirmou Valdomiro Bezerra, o Miro, 53 anos, que confeccionou uma das pipas.

Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Um festival de pipas promovido por moradores de Realengo ajudou a levantar o astral da criançada: nomes dos alunos mortos foi lembrado | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Na escola, que continua sendo visitada diariamente, um coelho da Páscoa, feito com bolas de gás rosas e brancas, foi colocado no portão por uma moradora. “Vim aqui para tentar matar a saudade dos meus amigos que se foram”, disse o estudante do 6º ano, Gabriel Almeida, 13.

De folga na Região dos Lagos, o sargento Márcio Alves — que conseguiu evitar que a tragédia fosse ainda maior ao atirar no criminoso — disse que torce pelo futuro dos alunos. “Assim como Páscoa é sinônimo de ressurreição, espero que os estudantes tenham forças para superar esse drama e deem continuidade às suas vidas”, ressaltou Alves, que esta semana vai ao colégio se reencontrar com as crianças, a pedido da direção da escola.

Ao contrário da dor dos que perderam seus filhos, para os sobreviventes do atentado, ontem foi um dia especial. “Só temos que agradecer a Deus por ter dado oportunidade ao meu filho de continuar vivo”, disse Any de Oliveira dos Santos, 31 anos, ao entregar um ovo de Páscoa a Jhonatan, 14. Baleado no braço direito, ele ficou dez dias internado e teve de se submeter a uma complicada cirurgia para corrigir uma grave lesão vascular. “Quero voltar a estudar lá (na Tasso da Silveira) e esquecer esse pesadelo”, comentou o menino.


A comerciante Andréia Tavares, 32 anos, mãe de Tayane Tavares Monteiro Monteiro, 13, que permanece em observação no CTI pediátrico do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, contou que os parentes se concentram numa corrente de fé. “Hoje (ontem) é um dia muito difícil para nós. Mas estamos muito esperançosos de que ela saia logo do CTI”.

Psicopata mata 12 estudantes em escola municipal

Manhã de 7 de abril de 2011. São 8h20 de mais um dia que parecia tranquilo na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste. Mas o psicopata que bate à porta da sala 4 do segundo andar está prestes a mudar a rotina de estudantes e professores, que festejam os 40 anos do colégio. Wellington Menezes de Oliveira, um ex-aluno de 24 anos, entra dizendo que vai dar palestra. Coloca a bolsa em cima da mesa da professora, saca dois revólveres e dá início a um massacre em escola sem precedentes na História do Brasil. Nos minutos seguintes, a atrocidade deixa 12 adolescentes mortos e 12 feridos. 

Transtornado, o assassino atacou alunos de duas turmas do 8º ano (1.801 e 1.802), antiga 7ª série. As cenas de terror só terminam com a chegada de três policiais militares. No momento em que remuniciava dois revólveres pela terceira vez, o assassino é surpreendido por um sargento antes de chegar ao terceiro andar da escola. O tiro de fuzil na barriga obriga Wellington a parar. No fim da subida, ele pega uma de suas armas e atira contra a própria cabeça.

Na escola, a situação é de caos. Enquanto crianças correm — algumas se arrastam, feridas —, moradores chegam para prestar socorro. PMs vasculham o prédio, pois havia a informação da presença de outro atirador. São mais cinco minutos de pânico e apreensão. Em seguida, começa o desespero e o horror das famílias.


A notícia se alastra pelo bairro. Parentes correm para a escola em busca de notícias. O motorista de uma Kombi para em solidariedade. Ele parte rumo ao Hospital Albert Schweitzer, no mesmo bairro, com seis crianças na caçamba, quase todas com tiros na cabeça ou tórax.

Wellington, que arrasou com a vida de tantas famílias, era solitário. Segundo parentes, jamais teve amigos e passava os dias na Internet ou lendo livros sobre religião. Naquela mesma escola, entre 1999 e 2002, período em que lá estudou, foi alvo de ‘brincadeiras’ humilhantes de colegas, que chegaram a jogá-lo na lata de lixo do pátio.

A carta encontrada dentro da bolsa do assassino tenta explicar o inexplicável. Fala em pureza, mostra uma incrível raiva das mulheres — dez dos 12 mortos — e pede para ser enrolado num lençol branco que levou para o prédio do massacre. O menino que não falava com ninguém deixou seu recado marcado com sangue de inocentes estudantes de Realengo.

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