11 de abr. de 2011

Obra no palco da tragédia para reduzir o trauma

Fonte: O Dia Online


Escola será pintada e terá aquário e show na volta às aulas para tentar manter alunos nas turmas. Professores entregam hoje material deixado por estudantes nas salas

Rio - A partir de hoje a Escola Municipal Tasso da Silveira ganhará investimentos para apagar as marcas da tragédia. Através do mutirão ‘Reinvenção da Escola’, a unidade ganhará nova pintura, mosaicos nas salas e um aquário. Também está sendo programado show na volta às aulas. 

As medidas da Secretaria de Educação são para evitar a evasão de estudantes. A secretária de Educação, Claudia Costin, anunciou que a escola não fará as provas bimestrais, prevista para este mês, e vai ouvir especialistas para saber o que pode ser feito com as duas salas onde houve o massacre.

Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Moradores de Realengo cercaram o local da tragédia | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Na quarta-feira, haverá reunião em todas as escolas e creches municipais. Professores, direção e funcionários discutirão melhorias na rede e farão documento com sugestões, que será entregue à secretaria.

O diretor da Escola Tasso da Silveira, Luís Marduk Braz Pires, 55 anos, informou que professores e funcionários se reúnem hoje na unidade para fazer uma limpeza. Após as 14h, ele começa a receber pais e alunos para retirar o material escolar que foi deixado nas salas. “Vamos limpar o sangue das mochilas e substituir os cadernos sujos”, disse.

Segundo ele, o material das duas salas onde houve a tragédia foi levado para a secretaria, enquanto o material dos outros alunos foi trancado nas salas. Ele contou que a secretária busca parceria com artistas para fazer um grande evento no dia 18, quando a escola deve ser reaberta aos jovens. “Isso deve motivar os alunos a voltar”, explicou.

Alunos da primeira turma de formandos da escola, de 1975, também estão empenhados em resgatar a história da escola e não deixar que o trauma acabe com uma tradição de quase 40 anos. Ontem, cerca de 20 alunos veteranos homenagearam as vítimas na porta da escola e se colocarem à disposição para ajudar as famílias. “Os ex-alunos atuam em várias áreas profissionais. Cada um poderá ajudar com sua capacitação”, diz a psicopedagoga Rosiane Lao Pacheco, 51 anos.

Corrente de fé em todo o bairro

Nova manifestação de fé tomou conta da porta da escola, na Rua General Bernardino de Matos e de outros pontos de Realengo. Ex-alunos, moradores e grupos jovens se reuniram para oração. De um carro de som soaram discursos, rezas e músicas religiosas. A tragédia foi citada em cerimônias em várias igrejas.

O pastor João Luiz de Almeida celebrou culto ao ar livre em homenagem às vítimas e programou outro para sexta-feira, às 20h. Centenas de pessoas passam na porta da escola diariamente fazendo homenagens.

“Momento de recomeçar”

Na quarta-feira, professores, alunos e familiares vão participar de um ato ecumênico, a partir das 9h, na porta da escola, com a presença de representantes de diversas religiões. O professor de História da Escola Municipal Castelo Branco, também em Realengo, Carlos Alberto da Silva Costa, 52, acredita que esse é o momento de recomeçar. “Esse renascimento deve ser comandado pela escola, pelos pais, alunos e comunidade”, diz.

Psicopata mata 12 estudantes em colégio municipal

Manhã de 7 de abril de 2011. São 8h20 de mais um dia que parecia tranquilo na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste. Mas o psicopata que bate à porta da sala 4 do segundo andar está prestes a mudar a rotina de estudantes e professores, que festejam os 40 anos do colégio. Wellington Menezes de Oliveira, um ex-aluno de 24 anos, entra dizendo que vai dar palestra. Coloca a bolsa em cima da mesa da professora, saca dois revólveres e dá início a um massacre em escola sem precedentes na História do Brasil. Nos minutos seguintes, a atrocidade deixa 12 adolescentes mortos e 12 feridos. 

Transtornado, o assassino atacou alunos de duas turmas do 8º ano (1.801 e 1.802), antiga 7ª série. As cenas de terror só terminam com a chegada de três policiais militares. No momento em que remuniciava dois revólveres pela terceira vez, o assassino é surpreendido por um sargento antes de chegar ao terceiro andar da escola. O tiro de fuzil na barriga obriga Wellington a parar. No fim da subida, ele pega uma de suas armas e atira contra a própria cabeça.

Na escola, a situação é de caos. Enquanto crianças correm — algumas se arrastam, feridas —, moradores chegam para prestar socorro. PMs vasculham o prédio, pois havia a informação da presença de outro atirador. São mais cinco minutos de pânico e apreensão. Em seguida, começa o desespero e o horror das famílias.

A notícia se alastra pelo bairro. Parentes correm para a escola em busca de notícias. O motorista de uma Kombi para em solidariedade. Ele parte rumo ao Hospital Albert Schweitzer, no mesmo bairro, com seis crianças na caçamba, quase todas com tiros na cabeça ou tórax.

Wellington, que arrasou com a vida de tantas famílias, era solitário. Segundo parentes, jamais teve amigos e passava os dias na Internet ou lendo livros sobre religião. Naquela mesma escola, entre 1999 e 2002, período em que lá estudou, foi alvo de ‘brincadeiras’ humilhantes de colegas, que chegaram a jogá-lo na lata de lixo do pátio.

A carta encontrada dentro da bolsa do assassino tenta explicar o inexplicável. Fala em pureza, mostra uma incrível raiva das mulheres — dez dos 12 mortos — e pede para ser enrolado num lençol branco que levou para o prédio do massacre. O menino que não falava com ninguém deixou seu recado marcado com sangue de inocentes estudantes de Realengo.

Reportagem de Christina Nascimento e Helvio Lessa

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