8 de abr. de 2011

Solitário, calado e disposto a jogar um avião no Cristo

Fonte: O Dia Online


Primo depõe na polícia e revela temperamento de rapaz fascinado pelo 11 de Setembro

Rio - Um estudante tímido, mas disciplinado. Um cidadão calado, mas sem anotações na ficha criminal. Wellington jamais foi parar numa delegacia. Não brigava com ninguém. Mas seu comportamento introspectivo causava calafrios nos próprios parentes. Especialmente a partir de 11 de setembro de 2001. O ataque terrorista que deixou mais de 3.000 mortos nos EUA foi um marco na vida do assassino de Realengo. Pelo menos foi isso que afirmou seu primo L., em depoimento à Divisão de Homicídios (DH), ontem, ao qual O DIA teve acesso.


As declarações do primo, que viveu com Wellington na casa da Rua do Cacau, a 300 metros da escola, são impressionantes. Segundo ele, o assassino se dizia fundamentalista e falava em “jogar um avião no Cristo Redentor e até treinava com um jogo de computador que ensinava como pilotar um avião”.

L. contou ainda que Wellington trabalhou no almoxarifado de uma fábrica, na Freguesia, entre 2008 e 2010, quando pediu demissão. Depois, deixou a barba crescer até o peito. Há cinco dias, raspou tudo para não chamar a atenção ao entrar na escola.
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Wellington morava numa casa na Rua do Cacau, a cerca de 300 metros da escola em que cometeu o massacre | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Além da carta, o assassino deu outro sinal de premeditação. Na casa onde vivia em Sepetiba há oito meses, quebrou tudo e destruiu seu computador. Na região, vizinhos o chamavam de Bin Laden. 

Wellington foi adotado pela avó de L., Dicea Menezes, já que a mãe biológica, Eliete, era esquizofrênica e não podia criá-lo. Em 2009, Dicea morreu. E Wellington passou a beber e fumar muito. O primo classificou Wellington como “um homem muito perigoso, e dizia para sua mãe que um dia ele faria algo de muito ruim”. L. estava certo. O dia muito ruim foi ontem, 7 de abril de 2011.

Na Internet o dia inteiro, sozinho 

Em Sepetiba, Wellington morava na casa herdada do pai adotivo. Não falava com ninguém. Sempre comprava refrigerante e ovos numa mercearia. Jamais foi visto com mulheres. Na casa, a polícia achou 18 livros — dez bíblias. “Ele estava muito focado em islamismo e tinha deixado a barba crescer muito. Era estranho, ficava na Internet o dia inteiro lendo temas relacionados e era muito reservado”, disse a irmã adotiva dele à Band News.

Semelhança com carta de terrorista 

A carta de Wellington tem semelhanças com a escrita por Mohammed Atta, terrorista da Al Qaeda que sequestrou e atirou um avião contra o World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001. 

SEPULTAMENTO
“Quem for me sepultar deve fechar meus olhos e rezar para que eu suba aos céus. Deve me vestir com roupas novas e não me deixar enterrar com as roupas com que morri.” 

RANCOR
“Ninguém que no passado não tenha se dado bem comigo deve me beijar, visitar ou se despedir de mim.”

PESSOAS IMPURAS
“Nem mulheres grávidas nem pessoas impuras devem se despedir de mim — eu não quero isso.”

PERDÃO
“Quem me velar deverá pensar em Alá e rezar para que eu esteja com os anjos.”

LUVAS
“Aquele que lavar meus genitais deverá usar luvas, para que eu não seja tocado naquela região”.

CARIDADE 
“Os bens que deixo deverão ser divididos como Alá os distribuiu a nós: um terço para os necessitados e os pobres”.

Psicopata mata 12 estudantes em colégio municipal

Manhã de 7 de abril de 2011. São 8h20 de mais um dia que parecia tranquilo na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste. Mas o psicopata que bate à porta da sala 4 do segundo andar está prestes a mudar a rotina de estudantes e professores, que festejam os 40 anos do colégio. Wellington Menezes de Oliveira, um ex-aluno de 24 anos, entra dizendo que vai dar palestra. Coloca a bolsa em cima da mesa da professora, saca dois revólveres e dá início a um massacre em escola sem precedentes na História do Brasil. Nos minutos seguintes, a atrocidade deixa 12 adolescentes mortos e 12 feridos. 

Transtornado, o assassino atacou alunos de duas turmas do 8º ano (1.801 e 1.802), antiga 7ª série. As cenas de terror só terminam com a chegada de três policiais militares. No momento em que remuniciava dois revólveres pela terceira vez, o assassino é surpreendido por um sargento antes de chegar ao terceiro andar da escola. O tiro de fuzil na barriga obriga Wellington a parar. No fim da subida, ele pega uma de suas armas e atira contra a própria cabeça.

Na escola, a situação é de caos. Enquanto crianças correm — algumas se arrastam, feridas —, moradores chegam para prestar socorro. PMs vasculham o prédio, pois havia a informação da presença de outro atirador. São mais cinco minutos de pânico e apreensão. Em seguida, começa o desespero e o horror das famílias.

A notícia se alastra pelo bairro. Parentes correm para a escola em busca de notícias. O motorista de uma Kombi para em solidariedade. Ele parte rumo ao Hospital Albert Schweitzer, no mesmo bairro, com seis crianças na caçamba, quase todas com tiros na cabeça ou tórax.

Wellington, que arrasou com a vida de tantas famílias, era solitário. Segundo parentes, jamais teve amigos e passava os dias na Internet ou lendo livros sobre religião. Naquela mesma escola, entre 1999 e 2002, período em que lá estudou, foi alvo de ‘brincadeiras’ humilhantes de colegas, que chegaram a jogá-lo na lata de lixo do pátio.

A carta encontrada dentro da bolsa do assassino tenta explicar o inexplicável. Fala em pureza, mostra uma incrível raiva das mulheres — dez dos 12 mortos — e pede para ser enrolado num lençol branco que levou para o prédio do massacre. O menino que não falava com ninguém deixou seu recado marcado com sangue de inocentes estudantes de Realengo. 

Reportagem de Christina Nascimento e Leslie Leitão

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