23 de mai. de 2011

Perigo corre solto sob passarela de pedestres

Fonte: O Dia Online


Bem perto de passagem segura, cinco pessoas por minuto se arriscam entre carros

Rio - Carros, motos e ônibus cortam em alta velocidade uma das vias mais movimentadas da cidade. Apesar da passarela acessível a poucos metros, o pedestre atravessa entre os veículos para ganhar alguns minutos. A cena, que muitas vezes não termina com final feliz, é mais comum do que deveria. Em apenas 30 minutos, equipe de O DIA flagrou 173 pedestres arriscando a vida sob a passarela da estação do metrô Cidade Nova, na Avenida Presidente Vargas, no Centro. Em média, foram pelo menos cinco pessoas por minuto.

Os flagrantes foram feitos na quarta-feira, entre 11h10 e 11h40. Só nos primeiros cinco minutos, 33 pedestres preferiram se arriscar entre os veículos a utilizar a passarela. A maioria justificou a imprudência usando as palavras “pressa” ou “preguiça”.

Moderna, a passagem de R$ 40 milhões sobre a Av. Presidente Vargas foi inaugurada há sete meses, mas número de atropelamentos continua alto: foram quatro só em abril | Foto: Alexandre Vieira/ Agência O Dia
“Nunca faço isso, sempre me exercito usando a escada da passarela. Mas, desta vez, o ônibus que eu peguei atrasou. Foi a pressa. Concordo que é muito perigoso, até pela minha idade sexagenária”, comentou a educadora Ana Gomes, 63 anos, ao ser flagrada atravessando a avenida em direção à sede administrativa da Prefeitura do Rio.

Assim como Ana, outros pedestres estão cientes do risco que correm. “Eu sei que é muito perigoso, mas basta tomar cuidado e pedir a proteção a Deus”, argumentou o repositor de supermercado Roger Lima dos Santos, 22 anos.

A consequência da imprudência no trânsito é o alto número de casos de atropelamento registrados na 6ª DP (Cidade Nova). Só no mês passado, quatro pedestres foram atropelados perto da passarela. Uma das vítimas foi Márcia da Silva, 44 anos, atingida por uma moto no dia 29 ao tentar atravessar a via durante um congestionamento.

Apesar de ser ignorada por muitos pedestres, a passarela é motivo de comemoração para outros. Com dificuldade para andar por causa de problemas renais, o aposentado Enafa Gomes, 42 anos, passava sufoco para buscar remédios em uma farmácia popular no Centro. O morador de Guadalupe descia de seu ônibus na altura do Sambódromo e esperava a Avenida Presidente Vargas ficar completamente livre para atravessar. Agora, ele desembarca no ponto próximo à passarela da Cidade Nova para ter mais segurança.

“Não posso correr e demorava quase uma hora para conseguir atravessar as quatro pistas da Avenida Presidente Vargas. Era muito desgastante. Ando um pouco mais ao descer na Cidade Nova, mas vale a pena. As pessoas não imaginam como a passarela é importante para quem tem deficiência”, comenta Enafa. 

Moderna e segura, mas ignorada por transeuntes
Inaugurada em novembro do ano passado, dentro de padrões modernos de arquitetura e ao custo de R$ 40 milhões, a passarela sobre a Avenida Presidente Vargas foi construída para ser instrumento de segurança e conforto para pedestres e usuários do transporte público.

A passagem, que liga a estação do metrô Cidade Nova à sede administrativa da prefeitura, conta com total acessibilidade. A estrutura tem duas escadas rolantes, dez escadas de acesso e cinco elevadores para pessoas com dificuldade de locomoção.

As escadas e elevadores foram instalados em cada um dos pontos de ônibus próximos à passarela. Mesmo com as facilidades de acesso, muitos passageiros — só na pista lateral da via, sentido Candelária, 27 linhas fazem desembarque — ignoram a estrutura e passam justamente sob a passarela. 

Como é parte integrante da estação Cidade Nova, a passagem fica aberta ao público apenas nos horários de funcionamento do metrô: de segunda a sábado, das 5h à meia-noite, e nos domingos e feriados, das 7h às 23h.

Prisão e multa de envolvidos
Mesmo quem não tem culpa no atropelamento, tem, no mínimo, muita dor de cabeça ao se envolver no acidente até provar inocência. Segundo a delegada da 6ª DP (Cidade Nova), Sânia Cardoso, o condutor do veículo e a vítima são investigados em inquérito policial que pode durar mais de 30 dias. 

No caso de morte do pedestre, o motorista pode ser inocentado ou receber pena de dois a quatro anos de prisão. Quando a vítima sofre algum tipo de lesão, o condutor do veículo pode ficar detido de seis meses a dois anos.

O pedestre também pode ter problemas na Justiça se causar lesões ao motorista. Além de ser atropelado, pode ficar detido de três meses a um ano.

Outra penalidade para o pedestre seria a aplicação de multa. O Artigo 248 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê R$ 26,60 para quem atravessa fora da faixa, passarela ou passagem subterrânea. Mas o coordenador de trânsito da Guarda Municipal, inspetor José Ricardo Soares, explica que a lei ainda não é fiscalizada porque não foi regulamentada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A assessoria do Contran diz que a lei pode ser executada pelas prefeituras.

Reportagem de Diogo Dias e Geraldo Perelo

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