20 de jun. de 2011

Cerco no estado para levar paz à Mangueira

Fonte: O Dia Online


Polícia realiza operações em todo o Rio para evitar fuga e retaliação de traficantes

Rio - As faixas com inscrições de ‘paz’ nas janelas e muros das casas, retratavam o desejo dos 21 mil moradores do Morro da Mangueira, que foi ocupado ontem para a instalação da 18ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Enquanto 750 homens das polícias Militar, Civil, Federal e fuzileiros navais reconquistavam o território, outras favelas do estado controladas pela facção criminosa Comando Vermelho, inclusive no interior do estado, também foram cercadas.


A estratégia inédita da Secretaria Estadual de Segurança foi uma tentativa de evitar que criminosos da mesma quadrilha orquestrassem ações em outros locais. “Muitas vezes o tráfico da Mangueira acionava a mesma facção em outro local para desviar a atenção quando tinha alguma ação aqui. Colocamos a polícia em outras áreas para evitar isso”, afirmou o secretário José Mariano Beltrame.
Foto: Severino Silva/Agência O Dia
Cerca de 750 agentes da polícia estão na comunidade desde as 8 horas da manhã | Foto: Severino Silva/Agência O Dia
Para ele, a ocupação de um dos principais redutos do CV foi histórica, apesar de os chefões da quadrilha terem escapado. “Era um lugar bem complexo de se atuar. Dificilmente as instituições policiais entravam num lugar desses sem haver uma troca de tiros. A polícia chega mais uma vez para ficar e essa é, indiscutivelmente, uma vitória. A saída dessas pessoas (traficantes) para outros lugares, os deixa vulneráveis. E a polícia, atenta, vai atrás”, frisou.

A comunidade — incluindo o Morro dos Telégrafos e o Parque Candelária — foi tomada pela polícia em 40 minutos e sem disparar nenhum tiro. Por volta de 10h, as bases provisórias do Batalhão de Operações Especiais já estavam montadas na localidade Caixa D’Água. Pouco depois, as bandeiras do Rio e do Brasil foram hasteada. Na ação, foram empregados 14 veículos blindados das polícias e da Marinha, quatro helicópteros, oito veículos para retirar barricadas do tráfico.
‘Cinturão’ para os Jogos

Para moradores do morro e arredores, a expectativa agora é de melhorias na região. “Estávamos esquecidos. Espero que venham saneamento básico e projetos sociais para as crianças. E, melhor, isso tudo com paz”, torce o PM reformado Willian do Vale, morador da favela há 10 anos.
“Pessoas que tinham medo agora podem vir conhecer a Mangueira. Minha loja vai bombar”, prevê o comerciante Marcos Pimentel. Beltrame reforçou o sentimento da população, ressaltando que todas os morros da Grande Tijuca e entorno do Maracanã já estão ocupados para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016.

Na ação, helicóptero da polícia jogou panfletos com telefone para denúncias e fotos dos bandidos mais procurados. Barricadas foram demolidas pelas retroescavadeiras do Bope e a prefeitura derrubou oito construções irregulares na calçada.
Ação foi o primeiro teste do rastreamento de PMs por GPS

A tecnologia foi uma aliada na ocupação da Mangueira. A principal novidade estava nas mãos de 70 PMs: radiotransmissores monitorados por GPS. Com a informação da localização exata dos policiais, o comando da operação pôde deslocar o efetivo conforme a necessidade.
De um central perto do morro, oficiais controlaram as ações num mapa que indicava a posição de cada PM. O GPS teve ainda o objetivo de evitar irregularidades cometidas por policiais, como acusaram moradores na tomada dos complexos do Alemão e da Penha, em novembro. Na ocasião, houve denúncias de saques a casas e de desvio de armas apreendidas.
Para Beltrame, o teste na Mangueira foi bem sucedido. “Estamos analisando o GPS, mas assim vamos evoluir a cada ação. O equipamento funcionou bem e foi uma reciclagem de alguns rádios, para termos mais uma ferramenta de gestão. Esperamos fazer isso em todos”, disse. O uso do aparelho foi antecipado pelo secretário a O DIA mês passado.
Identificação instantânea de suspeitos

A Polícia Civil também montou bases com agentes da Polinter nos acessos ao morro, para agilizar o trabalho de reconhecimento de suspeitos. Por meio de computadores nas viaturas, eram checadas identidades e fichas criminais. Dois menores foram apreendidos e dois homens, presos. A polícia apreendeu 32 veículos, uma réplica de fuzil, dois carregadores de pistola, 1.374 pedras de crack, 2.504 papelotes de cocaína e 35 quilos, oito tabletes e 300 trouxinhas de maconha. Dois helicópteros da polícia monitoraram a movimentação na Mangueira. O micro-ônibus do Bope, com câmeras israelenses, também captou imagens. A ação contou com apoio do ‘caveirão aéreo’ da PM.
Reportagem de Fernanda Alves, Vania Cunha e Marcello Victor

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