Fonte: O Dia Online
Seis homens ficaram mais de 20 dias no mar sem mantimentos. Para se abrigar do frio, se enrolaram em redes. O barco estava em Cabo Frio e foi resgatado em Santa Catarina
POR FERNANDA ALVES
Rio - Fome, frio, desespero e medo. Esses foram alguns dos desafios enfrentados pelos seis pescadores que ficaram pelo menos 20 dias à deriva em alto mar no barco pesqueiro ‘Wiltamar III’, que sofreu pane elétrica. Sem água e comida, eles tiveram que beber xixi e água da chuva para matar a sede. O grupo foi resgatado na manhã de segunda-feira, pelo navio mercante italiano Marola, que os avistou a 216 km da costa de Santa Catarina. Ontem eles voltaram para terra firme.
Três chegaram em macas e os seis foram encaminhados para hospitais. A viagem começou dia 16 de maio, quando os pescadores saíram de Itaipava, no Espírito Santo, em direção a Cabo Frio. Lá, eles ficaram atracados até o dia 27 do mesmo mês.
O último contato com a embarcação aconteceu no dia 6 deste mês, quando outro barco que pescava na região — a 90 km da costa da Região dos Lagos — retornou para Cabo Frio. Antes, essa embarcação entregou gelo e água para os tripulantes do Wiltamar. Eles teriam dito que ficariam apenas mais uma dia no mar.
O pescador Cristiano Pereira de Souza, 33, contou que o acidente ocorreu dia 7: “Resolvemos ficar mais um dia e foi aí que aconteceu a pane elétrica”. Outro tripulante, Maicon Lima dos Santos, 24, lembrou que eles tiveram que beber urina e comer peixe cru. Também estavam no barco, que tem 12 m de comprimento, Zenildo de Oliveira Pacheco, 31, Leandro Vidal Martim, 34, Gilnei Bahense da Silva, 56, e José Cláudio da Conceição Sacramento, 36.
Capitania vai investigar se ressaca não influenciou na pane do barco
O reencontro entre os pescadores e os familiares ontem à tarde, na Capitania dos Portos, foi marcado por muita emoção. O navio italiano atracou na Baía de Guanabara e uma lancha da Marinha os trouxe até ao cais. Apenas três pescadores conseguiram sair andando, os outros tiveram que ser levados em macas. Eles foram encaminhados para os hospitais Salgado Filho, Miguel Couto e Souza Aguiar, e passam bem.
A esposa de Zenildo, que comandava a tripulação, Gleice da Silva Pacheco, 23, não se conteve ao vê-lo vivo: “Você não vai vai morrer, meu amor”. Ela contou que em nenhum momento perdeu a esperança de revê-lo com vida, apesar de a Capitania dos Portos ter suspendido as buscas dia 15.
O dono na embarcação, Pedro Araújo, informou que o barco estava com a documentação em dia. A Capitania dos Portos vai para apurar as causas do acidente e não descarta a influência do clima. “Durante esse período aconteceram três ressacas”, lembrou o Capitão dos Portos, Walter Bombarda.
Herói carregou os colegas nas costas até navio
A estreia no mar não poderia ter sido mais marcante para o pescador Cristiano Pereira, 33, o herói do resgate. Balançando um pedaço de pano, ele chamou a atenção da embarcação italiana que transportava derivados do petróleo. Cristiano ainda carregou nas costas, um a um, todos os companheiros por uma escada que os levou até o navio: “Em nenhum momento eu desisti de viver”.
A mãe do pescador contou que teve um pressentimento antes da viagem. “Senti um aperto no peito. Sempre achei que ele estivesse vivo”, contou Coletí Pereira de Souza, 55.
Reza dentro de buraco do peixe
O mais experiente da embarcação, Gilnei Bahense da Silva, 56, que pesca em alto mar desde os 14 anos, teve medo de morrer. Segundo ele, as condições do mar pioraram a situação. “Estava com muito frio. Me enrolei em panos e fiquei escondido em um buraco no barco, rezando”, disse Gilnei, se referindo ao compartimento de guardar os peixes no barco.
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