15 de jul. de 2011

Programa de Proteção a Testemunhas fica em xeque

Fonte: O Dia Online


Casal que teve família morta e denunciou Liga da Justiça estava sob proteção em Minas e ainda assim sofreu ataque

Rio - Ele vivia com o que sobrou de sua família em Lima Duarte, cidade de Minas Gerais, a cerca de 280 quilômetros da Zona Oeste do Rio, território da milícia Liga da Justiça. Lá, V. sentia-se protegido pela lei após ser testemunha de chacina com sete pessoas mortas em 2008, na Favela do Barbante, em Inhoaíba, e ter sete parentes mortos como represália à denúncia contra os paramilitares no ano seguinte. Na terça-feira, às 18h, porém, ele sofreu um atentado a tiros e sua mulher foi espancada, mas o casal escapou.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia / 2.7.2009
Testemunha de chacina, V. retornou ao programa de proteção, em 2009, depois de abandoná-lo uma vez | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Levadas para o interior mineiro por intermédio do Programa de Proteção a Testemunhas (Provita), as vítimas teriam conseguido ajuda de parentes do Rio para escapar. “Foi uma maneira de continuarem vivos”, segundo denúncia feita nesta quinta-feira, a O DIA, que acompanha o drama de V. e sua família desde ele e dois primos — ambos assassinados — viraram alvos preferenciais da milícia.

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que coordena o Provita, informou ter removido as vítimas para outro local, que não pode ser revelado por motivos de segurança.
Pesidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), teme que esse caso possa acabar com o programa. “É muito importante que se apure o que aconteceu para que o programa não corra o risco de acabar. Ele serve para preservar a vítima que muitas vezes é a única prova que a polícia que tem para elucidar o caso”, afirmou o parlamentar.
Depoimentos condenaram Batman
O relato de testemunhas da chacina da Favela do Barbante ajudaram a revelar a atuação dos milicianos da Liga da Justiça. Apontado como ‘braço armado’ do grupo paramilitar, o ex-PM Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, preso em 2009, foi condenado pelas mortes na comunidade graças aos depoimentos dos irmãos Leonardo e Leandro Baring Rodrigues, ambos executados.
Assim como V., os dois eram ameaçados pela milícia. Leonardo Baring Rodrigues foi assassinado em julho de 2009, na Vila do Céu, em Cosmos. O irmão dele, Leandro viu o crime, e, para ir ao enterro, precisou de escolta policial e colete à prova de balas, como O DIA relatou. Mesmo assim, em setembro do ano passado, acabou morto a tiros na entrada do Jacarezinho.
Na família, a lista de vítimas dos milicianos inclui ainda o pai de V. — um sargento reformado do Exército, de 90 anos — e mais quatro parentes. Na ocasião, todos foram mortos por criminosos que estavam à procura dos dois irmãos e, como não os encontraram, cometeram mais uma chacina.
Autoridades questionam versão
As autoridades que investigam o caso de V. suspeitam da versão que ele apresentou. Um dos detalhes que mais chamam a atenção é o fato de no local onde ele teria sido emboscado por homens armados não haver vestígios de projetéis ou marcas de bala.
Em depoimento, testemunhas disseram que parte dos hematomas no corpo da mulher dele, que teria sido espancada por bandidos, seriam antigas. Embora tenha comparecido à delegacia registrar o crime, ele não informou ao telefone 24 horas do Provita sobre o episódio.
As autoridades garante que V. e sua mulher estão em local seguro. Mas alertam que normas do programa não podem ser quebradas, como falar com outras pessoas sem autorização.
Reportagens de Adriana Cruz, Flávio Araújo, Luarlindo Ernesto e Maria Inez Magalhães

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