11 de jul. de 2011

Veja imagens do interior dos bueiros que estão explodindo no Rio

Fonte: G1 Rio de Janeiro


Fantástico obteve vídeo da rede subterrânea da Light com exclusividade.
Para promotor, equipamentos da rede da concessionária estão sucateados.


Do Fantástico
O Fantástico conseguiu, com exclusividade, imagens das câmaras subterrâneas da Light, a empresa que fornece energia elétrica, que estãoexplodindo no Rio de Janeiro. Como é local de acesso restrito, a equipe de reportagem entregou uma câmera para o pesquisador Moacyr Duarte, que é especialista em análise de acidentes, para que ele fizesse o vídeo na área subterrânea onde a Light opera. Uma microcâmera foi acoplada no capacete para auxiliar na captação das imagens.
“Alguns equipamentos próximos ao fim da vida útil, como é o caso dos transformadores e das chaves de óleo, que não são mais utilizados em boa parte do mundo. Os cabos elétricos, o sistema de isolamento ainda é muito antigo, com chumbo, papel e óleo isolante. Isso não é usado há muitos e muitos anos”, afirma o pesquisador Moacyr Duarte.

"O acidente ocorre no transformador de potência. Ele recebe a carga em alta tensão, com uma voltagem que a dona de casa não pode usar em casa e, por esses cabos, a tensão sai ajustada naquela voltagem que a gente usa em casa", mostra o especialista no vídeo.
Duarte explica ainda que nem todas as tampas de bueiros podem voar com as explosões. “O acidente com a projeção da tampas só ocorre nas câmaras de transformadores que são as maiores", diz o pesquisador, citando os modelos com moldura quadrada, típico das caixas de transformadores. "Tampas redondas e sem a moldura oferecem risco baixo”, esclarece.
Dezenas de bueiros explodiram nos últimos meses no Rio de Janeiro. Na primeira semana de julho, já houve cinco ocorrências. O caso mais grave foi em 2009, quando umcasal de turistas americanos ficou gravemente ferido quando um bueiro explodiu em Copacabana.

Os acidentes são causados por explosão nas câmaras subterrâneas onde estão os transformadores da Light e se concentram nos bairros onde a rede é mais antiga. “Alguns equipamentos dessas câmaras subterrâneas estavam sucateados, tinham mais de 50 anos”, afirma o promotor de Justiça Rodrigo Terra.
Como acontecem as explosões
O especialista Moacyr Duarte explica exatamente como essas explosões acontecem. “Em alguns lugares você tem incêndios, em algum lugar você tem explosão. O que é bem distinto”, afirma Moacyr Duarte, pesquisador da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A primeira ocorre quando o transformador, por ser muito antigo e estar mal-conservado, explode. O equipamento é cheio de um óleo isolante. Quando ocorre uma sobrecarga, esse óleo instantaneamente chega aos mil graus Celsius. Ele se expande e o transformador explode como uma panela de pressão. As tampas de bueiro não se deslocam, mas a câmara incendeia.
O fogo atinge a superfície.
O acidente mais grave acontece quando os dutos de gás da Companhia de Gás Natural (CEG) vazam gás para dentro das câmaras. Quando a sala está cheia de gás, basta uma fagulha do equipamento. Resultado: uma violenta explosão que lança as tampas dos bueiros para o alto.
Fiscalização
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela fiscalização do setor elétrico, já determinou que a Light modernize os equipamentos no Rio de Janeiro. “Acho que faltou investimento naquilo que fosse mais fundamental, principalmente nesses setores de rede subterrânea”, afirma Nelson Hübner, diretor geral da Aneel.
“Esse é um sistema que não vinha causando problema. O que não está causando problema foi deixando um pouquinho adiante. Agora a Light, essa nova direção da Light, entrou substituindo realmente todos esses equipamentos antigos. Poderia ter sido feito antes”, reconhece Mario Romano, superintendente da Light.
Sete bueiros com 100% de risco de explosãoO Conselho Regional de Engenharia (Crea) fez uma vistoria em bueiros do Rio e encontrou gás em sete locais do Centro da cidade. Neles há risco de grandes explosões. “Eu não tenho dúvida nenhuma de que existe um terceiro componente que é a presença de gás”, aponta o engenheiro do Crea-RJ, Luiz Consenza.
A companhia de gás diz que está substituindo os equipamentos até 2013. “Cada ponto da nossa rede é vistoriada com sensores pelo menos uma vez por ano. Isso dentro das práticas mundiais é o que se faz normalmente”, afirma o presidente da CEG, Bruno Armbrust.
“Não queremos pessoas se desviando de bueiros ou de instalações. Queremos uma manutenção regular e estruturada”, diz o pesquisador Moacyr Duarte.
“Todo o mundo tem que sentar e procurar uma solução para essa questão ridícula que está vivendo o Rio de Janeiro”, constata Luiz Cosenza.
Problema também em São PauloNa maior cidade do país, a confusão dos subterrâneos também é um problema. São Paulo já iniciou um mapeamento das redes de dutos, canos e galerias que correm por baixo da cidade. Mas isso ainda é pouco para saber com certeza o que se esconde sob os pés dos paulistanos.
O Fantástico desceu até as galerias que passam na Avenida Paulista. O cenário parece de um filme de terror. Com um programa de computador, a prefeitura já pode ter uma ideia do que passa por baixo da cidade, mas ainda não há exatidão. É impossível ter certeza de que uma obra não vai encontrar um cano de gás pelo caminho.
“Com o crescimento da população nos grandes centros urbanos como São Paulo, não só a superfície encontra-se congestionada como também os subterrâneos estão ocupados por diferentes redes de abastecimento, água, gás, energia elétrica e também sistemas viários de transporte”, aponta a engenheira Gisleine Coelho de Campos, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Diferentemente do Rio de Janeiro, São Paulo tem poucas redes subterrâneas de eletricidade. Por isso, o risco de explosões de bueiros como os que aconteceram na capital fluminense é mínimo. “Aqui nós nunca tivemos ocorrência de situações similares a essa”, afirma a engenheira do IPT.

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