8 de jun. de 2011

Em carta, bombeiros pedem que haja negociação só depois de serem soltos

Fonte: G1 Rio de Janeiro


Carta assinada pelos líderes presos foi distribuída na tarde desta 3ª na Alerj.
Presidente da casa apela para diálogo no impasse com o Governo do RJ.

Patrícia Kappen

Do G1 RJ
Oito dos 439 bombeiros presos após a invasão do quartel central da corporação, no Centro do Rio, divulgaram na tarde desta terça-feira (7) uma carta em que pedem que os colegas de farda continuem a protestar e não façam qualquer negociação antes que eles sejam soltos.
"Orientamos, pelo bem dos 439 bombeiros presos, bem como das nossas famílias que ninguém esteja autorizado a negociar qualquer pauta antes que todos nós sejamos libertados", afirma a carta assinada pelos líderes do movimento que pede melhores salários e condições de trabalho para os bombeiros do estado, e distribuída pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Carta dos bombeiros presos (Foto: Patrícia Kappen/G1)Carta dos bombeiros presos divulgada na tarde desta terça-feira (7) (Foto: Patrícia Kappen/G1)
O presidente da casa, Paulo Melo (PMDB) afirmou nesta terça que a solução para o impasse entre governo do Rio e os bombeiros é o diálogo. Ele se dispôs a mediar as negociações."Não adianta procurar culpados, temos que adotar soluções", afirmou. "A negociação salarial exige tempo e paciência. É uma batalha em que não existe vencedores nem vencidos".

O deputado Marcelo Freixo (Psol) afirmou que 23 deputados já assinaram a nota em apoio aos bombeiros. Ele disse que a luta da categoria é justa. "É das mais justas lutas que já bateu à porta da casa. O Rio de Janeiro paga mal porque quer pagar mal. O governador foi infeliz, a sociedade já mostrou de que lado está. E à essa casa cabe a mediação", afirmou, para depois completar: "acredito que só teremos esse problema resolvido quando essas pessoas forem soltas".
O deputado estadual Paulo Pinheiro (PPS) também manifestou apoio ao movimento. "Essa prisão é ilegal. Foi feita pela Polícia Militar dentro de um quartel dos bombeiros. Se houvesse motivo para a prisão, ela deveria ter sido feita pelo comandante dos bombeiros".
Quem também se disse a favor da corporação foi o deputado Luiz Paulo (PSDB). Ele afirmou em plenário que é preciso negociar a questão dos salários: "É necessário que o governo tenha equilíbrio para entender que os manifestantes lutam de fato para ter um melhor salário".
Habeas corpus negado
A juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Tribunal de Justiça do Rio, negou o pedido de habeas corpus para um grupo de bombeiros que está entre os 439 presos, após a invasão ao Quartel Central da Corporação durante um protesto por aumento de salário e melhores condições de trabalho. A decisão da magistrada foi divulgada na internet pelo Governo do RJ nesta terça-feira (7).


Procurada pelo G1, a assessoria do TJ-RJ, informou, no entanto, que a decisão é de domingo (5) diz respeito a apenas um dos 439 bombeiros presos.

Governo do RJ informou pelo Formspring que juíza negou habeas corpus a bombeiros presos (Foto: Reprodução internet)Governo do RJ informou pelo Formspring que juíza negou habeas corpus a bombeiros presos (Foto: Reprodução internet)
De acordo com a juíza, os bombeiros não seguiram o mandamento da instituição militar. Ela alegou ainda em sua decisão “nos recentes episódios, o que se viu foi uma verdadeira baderna protagonizada não por civis coléricos. Os atores eram, espantosamente, bombeiros militares enfurecidos, ensandecidos, buscando, com força bruta, alcançar intentos que consideravam justos”.
A magistrada afirmou ainda que os manifestantes perderam a razão ao usarem a força para invadir o quartel geral dos bombeiros. "Com o uso da força bruta e praticando verdadeiros desmandos, insurgiram-se, exacerbaram-se e perderam toda e qualquer razão que eventualmente, em algum momento, possam ter tido. Conflagrados, invadiram o QG da Corporação. Depredaram instalações públicas. Impediram que viaturas saíssem para atender a chamados urgentes. Fizeram desembarcar colegas de dentro de viaturas que trafegavam em serviço. Um verdadeiro caos".
"Em truculento exercício arbitrário dos próprios motivos, causaram verdadeira consternação a seus superiores e aos cidadãos. Olvidaram-se de todas as boas normas de conduta, tanto daquelas que regem as pessoas civilizadas, como daquelas que norteiam os militares como um todo", completou.
Bombeiros presos recusam transferência
A Associação do Corpos de Bombeiros do Brasil afirmou que o comandante da corporação no Rio, coronel Sérgio Simões, ofereceu aos militares presos a possibilidade de transferí-los para quartéis de unidades mais próximas de suas famílias. No entanto, durante reunião realizada nesta terça (7) no quartel da corporação em Jurujuba, em Niterói, entre o coronel e os 439 bombeiros e salva-vidas presos, os oficiais recusaram a transferência.

"Ele (coronel Sérgio Simões) falou que não pode fazer mais nada para libertá-los, mas que agora a questão está com a Justiça Militar. O coronel ofereceu às famílias transferir os bombeiros presos para quartéis de unidades mais próximas às suas famílias, mas os bombeiros presos não aceitaram isso. Eles querem ficar juntos, são mais fortes unidos do que separados pelo estado", disse Sonia Regina Guanieri, representante da Associação dos Ativos, Inativos e Pensionistas das Polícias Militares, Brigadas Militares e Corpos de Bombeiros do Brasil.
Segundo ela, o comandante do Corpo de Bombeiros vai se reunir com deputados e o presidente da Assembleia Legislativa do estado (Alerj) para discutir a questão ainda nesta terça.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde e Defesa Civil, ao qual o Corpo de Bombeiros é subordinado, não respondeu até o momento ao questionamento do G1 sobre o que o comandante conversou com os presos e nem confirmou se foi oferecida a transferência.
Bombeiros presos raspam a cabeça
Bombeiros presos tem números escritos na cabeça (Foto: Reprodução / TV Globo)
Bombeiros presos tem número 439 pintado nas
cabeças (Foto: Reprodução / TV Globo)
Alguns dos bombeiros presos no quartel de Jurujuba, em Niterói, após a invasão do quartel central na última sexta-feira (6) rasparam a cabeça. Em sinal de protesto, eles pintaram o número 439 referente ao número de oficiais que estão presos.
Bombeiros acampados na Alerj
Pelo segundo dia consecutivo um grupo de bombeiros continua acampado na escadaria da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), no Centro da cidade, nesta terça-feira (7). Eles garantem que vão permanecer no local até que suas reivindicações sejam atendidas. Pelo menos duas patrulhas da PM fazem o policiamento no local.

Além do aumento de salário, eles querem a libertação dos 439 colegas de farda que foram presos após a invasão do Quartel Central da corporação, na noite de sexta-feira (3).
Bombeiros na Alerj (Foto: Lílian Quaino/G1)Bombeiros fazem protesto e mostram contracheque na Alerj (Foto: Lílian Quaino/G1)
Salários
Os bombeiros pedem um piso salarial de R$ 2 mil - atualmente é de R$ 950 – e também vale transporte e melhores condições de trabalho. De acordo com Simões, há dois tipos de salários: um de R$ 1.187, para o soldado que é solteiro; e o de R$ 1.414 para o que é casado e recebe o chamado salário-família.
Já o governo do Rio informou que aprovou no ano passado um aumento progressivo de 1% ao mês para os bombeiros, que começou a valer em janeiro deste ano e chegará, no fim de 2014, a R$ 2.077,25. Além disso, ainda segundo o governo do estado, os bombeiros recebem auxílio-moradia (valor não informado) e que parte deles tem gratificação por capacitação no valor de R$ 350.
“Nesse primeiro momento eu quero que a tropa confie em mim. Eu sou comandante da corporação, eu vou tratar dos interesses da corporação (...) vou me organizar e vou procurar o governador para levar a ele quais são as necessidades, quais são as necessidades da corporação”, disse o comandante.
Simões garantiu que apesar da crise o Corpo de Bombeiros não deixará de atender a população, “em nenhuma hipótese”.

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